Número de câmeras em Porto Alegre vai quase dobrar até a Copa

Olhos eletrônicos são uma das apostas das autoridades do Rio Grande do Sul para garantir a tranquilidade do público e dos visitantes durante a Copa do Mundo em Porto Alegre. Até 2014, a capital gaúcha deve contar com pelo menos 1.328 câmeras de monitoramento instaladas por ruas, avenidas e outros pontos da cidade, praticamente o dobro do disponível atualmente. Boa parte delas será destinada ao policiamento e para outras operações de segurança na Cidade Porto Alegre.

Além de controlar toda a movimentação de veículos e de torcedores durante o evento, os equipamentos são apontadas como importantes aliados no combate à criminalidade e ao atendimento de situações de emergência. Das grandes avenidas da cidade até o Estádio Beira-Rio, é provável que pouca coisa escape ao olhar atento de observadores sentados em frente a telões ou monitores em centros de controle.

Desde segunda-feira (10) até a sexta (14), fizemos um raio X da preparação de Porto Alegre para o Mundial. A Copa do Mundo será realizada de 12 de junho a 13 de julho, em 12 cidades brasileiras. A capital gaúcha receberá cinco partidas, quatro delas da fase de grupos e uma das oitavas de final. Nesta reportagem, você confere como o policiamento pretende garantir a segurança nas ruas da cidade durante o evento.

Atualmente, Porto Alegre conta com 700 câmeras espalhadas pela cidade. Desse total, 42 estão a serviço da Brigada Militar e da Polícia Civil e são monitoradas pelo Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp) do estado. Até 2014, a previsão é de que mais 90 sejam instaladas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) em pontos considerados estratégicos para o policiamento, sendo 60 delas nos Territórios da Paz.

Segundo o major Gilberto da Silva Viegas, chefe do Ciosp, o aparato que tem transformado centros urbanos em uma espécie de Big Brother é fundamental para monitorar jogos de futebol e outros grandes eventos. “Com as câmeras, a gente tem uma visão privilegiada do antes, durante e depois. Observamos toda a movimentação da população, podemos flagrar atividades ilícitas e avisar o policiamento na rua com a descrição precisa do autor”, afirma ao G1.

A maioria das câmeras pertence ao Centro Integrado de Comando da Cidade de Porto Alegre (Ceic), inaugurado em outubro do ano passado pela prefeitura. Até dezembro, outros 478 equipamentos devem ganhar as ruas e se somarão a outras 60 que virão até a Copa. Posicionadas nas vias, em áreas escolares e em prédios públicos, elas geram imagens que são acompanhadas por diversas setores da administração municipal, como fiscais de trânsito e operadores do Samu.

Sistemas serão integrados ao centro de controle
Tanto o Ciosp quanto o Ceic já operam integrados, através de convênios firmados entre a prefeitura e o governo do estado. Da sala do Ciosp, é possível visualizar as câmeras da prefeitura. Quando um crime ou atitude suspeita é flagrada por um operador que monitora o trânsito, por exemplo, a polícia é avisada. O mesmo princípio vale para o caminho inverso.

“O compartilhamento das imagens é importante em todos os aspectos. A ideia é disponibilizar a informação para quem precisa dela. O Ceic vem atuando há algum tempo nos grandes eventos da cidade em conjunto com todos os órgãos envolvidos com um amplo foco na segurança do cidadão”, explica o coordenador-geral do centro, Airton Costa.

A partir da Copa, a integração tende a ser ainda maior. As lentes dos dois sistemas e de mais um centro de comando das Forças Armadas serão compartilhadas no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), que está sendo montada no prédio da SSP. De lá, serão coordenadas todas as ações de segurança durante a Copa na capital gaúcha.

Para o secretário de segurança Airton Michels, o CICC será o maior legado da Copa na área para a capital gaúcha por aproximar instituições como a Brigada Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, entre outras.  “Essa integração obrigatória entre as forças de segurança vai continuar depois da Copa. Cada corporação tem suas peculiaridades e dificilmente conseguiríamos ter essa troca de informações se não fosse essa necessidade tecnológica”, avalia.

O CICC vai ocupar uma área de 3 mil metros quadrados no prédio da secretaria, que será ampliado para receber os equipamentos. As obras devem iniciar em 30 dias, e as operações em janeiro de 2014. A estrutura contará com salas de call center, de gestão de crises e de operações (onde ficarão os monitores), entre outras. Um outro compartimento à prova de incêndio, inundações e magnetismo vai abrigar a central de dados.

Efetivo da Brigada Militar depende de seleções
A Secretaria de Segurança e a Brigada Militar ainda não definiram o tamanho do efetivo que será mobilizado pela corporação para o policiamento ostensivo nas ruas durante o Mundial. Segundo o secretário Airton Michels, esse número começará a ser calculado em dezembro, após o sorteio dos grupos e a escolha dos centros de treinamento das seleções.





O raciocínio é simples: a quantidade de torcedores que virá à cidade será diferente se Porto Alegre receber a Coreia do Sul ou a Argentina, por exemplo. “Dependendo das seleções, o nosso planejamento terá formatação diferente. Se vierem países distantes, sem tradição no futebol, o policiamento necessário será um. Se recebermos países do Prata, teremos de tomar providências mais intensas”, explica.

A Brigada Militar, no entanto, já tem delineado alguns esboços. Entre outras coisas, a corporação sabe que a Fifa recomenda a presença de um policial para cada grupo de 50 pessoas no estádio. Se for levada em conta a ocupação total do Beira-Rio na Copa, de 51,3 mil lugares, serão necessários 1.026 homens de prontidão.

Esse contingente, contudo, pode nem entrar em ação. Isso porque a segurança dentro nas arenas da Copa será privada. Ficará a cargo de seguranças contratados pela Fifa. “O policiamento só será acionado dentro dos estádios em casos de emergência”, diz o subcomandante-geral da Brigada Militar, tenente-coronel Silanus Mello.

Outra questão que está bem definida é o policiamento na Fan Fest, o palco que será instalado no Largo Glênio Peres. Dali até as proximidades do Beira-Rio, no chamado “Caminho da Copa”, a segurança será feita por um efetivo destacado unicamente para a tarefa. Essa responsabilidade ficará a cargo do 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM).

“A Fant Fest e os outros dois palcos que a prefeitura vai montar nas zonas norte e sul da cidade exigem um policiamento exclusivo, que não esteja vinculado ao 190. Com exceção dos jogos, é o evento que terá mais público e requer atenção diferenciada. Estamos estruturando o planejamento tático junto com o comando e devemos entregá-lo em julho”, conta o major André Luiz Córdova, comandante do 9º BPM. Segundo o major, um simulado de incidente na Fant Fest deve ser realizado no dia 29.

A preparação dos policias que atuarão nessa área também inclui treinamento para lidar com os turistas. Desde 2010, eles têm frequentado cursos sobre os principais pontos turísticos da capital gaúcha e também de línguas, sobretudo inglês e espanhol. “Nós seremos o primeiro contato com os turistas estrangeiros. O policial precisa estar bem preparado para o acolhimento e para passar informações”, diz Córdova.

Policiamento nas ruas terá reforço de motos e cavalos
Para que o policiamento de rotina no restante da cidade e as ocorrências oriundas do 190 não fiquem prejudicadas, a BM deve apostar na agilidade das motocicletas. Desde 2011, a Companhia de Motopatrulhamento do 9º BPM patrulha as ruas do centro de Porto Alegre sobre duas rodas. Há planos de expandir o projeto-piloto para outras áreas da cidade até 2014.

De acordo com o com comandante da unidade, capitão Éderson Trajano, o efetivo atual de 45 homens deve ser dobrado. As novas motocicletas estão previstas para chegar em janeiro. “A vantagem da motocicleta é que o tempo de resposta é mais rápido. Um atendimento ao 190 cai para três a cinco minutos, contra 10 a 12 minutos com o carro convencional. Paralelamente a isso, o policiamento a pé é desonerado”, garante ele.

Também terá papel importante durante a Copa em Porto Alegre o policiamento montado. O aumento do efetivo de policiais a cavalo na cidade nos últimos meses pode ser facilmente percebido em parques ou em avenidas como a Ipiranga. Usado em jogos de futebol há muitos anos estado, essa modalidade de policiamento é outra das exigências da Fifa relativas à segurança do evento.

Um novo padrão de animais está sendo preparado para atuação no evento. São cavalos da raça Brasileiro de Hipismo, considerados os mais adequados para o policiamento ostensivo e convívio com multidões pelo temperamento. “É uma raça mais dócil, com um porte aquedado e uma andadura que facilita o trabalho do cavaleiro, propício para o ambiente urbano”, esclarece o tenente-coronel José Luis Ribeiro Paz, comandante do 4º Regimento de Polícia Montada (4º RPMon) da capital.

Nascidos no criatório da Brigada Militar da cidade Santa Maria, os animais estão sendo adestrados no Centro de Treinamento de Policiamento Montado, inaugurado em novembro passado na capital. Dos 140 cavalos do regimento, 86 já são da raça. Outros 50 já estão em produção e vão se somar um efetivo que deve contar com 200 conjuntos cavalo-cavaleiro.

“Um policial a cavalo equivale a 10 homens em uma ocorrência”, afirma o subcomandante geral Silanus Mello. “O cavalo traz uma série de vantagens, como a visibilidade em função da plataforma elevada de observação, a agilidade, mobilidade e a eficácia no controle de grandes públicos”, acrescenta o tenente-coronel Ribeiro.

Segundo o tenente-coronel Silanus Mello, a preparação para garantir a segurança dos moradores de Porto Alegre e dos turistas durante a Copa vem sendo feita desde 2007, quando o país foi escolhido para receber o evento. E o trabalho está longe de acabar. Nesta semana, oficiais embarcaram para as sete cidades-sede da Copa das Confederações. Vão atuar como observadores, analisando erros e boas práticas de policiamento.

Fonte: G1





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